domingo, 24 de maio de 2009

Certo dia resolvi não voltar pra casa depois da aula. O acúmulo de assunto e a falta de clima de estudos pelo qual minha casa passava, fez-me prolongar as horas na faculdade. Fui, então, almoçar no bloco de Engenharia, cujo restaurante oferece uma refeição satusfatoria numa simplicidade aconchegante. 
A única mesa vaga tinha lugar para 6 pessoas. Como eu, além de mim, só era acompanhada pelos livros, sentei já cogitando a possibilidade de dividi-la com pessoas desconhecidas, ao menos a principio. Mas não via isso como um problema, pelo contrário: sempre lamentei a minha timidez no que tange a abrir espaço para novas amizades.
Mergulhada nesse pensamento, fui bombardeada, não muito tempo depois, por exatamente 5 pessoas cujas mãos possuiam um prato pronto para ser devorado, e os olhos a busca pelo "lugar ao sol". 
Assim que me pronunciei com um, "podem sentar aqui, está vago", o mais cara-de-pau retruca: "mas já iamos sentar mesmo, nem se preocupe". 
Foi o suficiente pra os nossos santos se entenderem.

Admiro as pessoas que reconhecem seus lugares; mas admiro mais ainda a ousadia ponderada daqueles que querem conquistar os seus. O sucesso é um conjunto, atos isolados te levam apenas a metade do caminho.

Juliana Accioly

O castelo dos nossos medos

"... porque fomos educados para não chorar, para sermos adultos silenciosos. E ficamos na amargura, encolhidos no nosso medo, olhando as pinturas na parede que mostram as atitudes não realizadas. "

Thaís Copetti

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Kris, se eu pudesse viver minha vida novamente, gastaria muito menos energia querendo coisas que não tivesse e muito mais aproveitando as que já possuísse. A idéia de que a felicidade vem do fato de querermos o que temos, em vez de conseguirmos o que queremos, é algo tão óbvio e está bem debaixo do nosso nariz a vida toda, e você sempre pareceu saber disso melhor que eu.
Essa é outra coisa da qual estou absolutamente certo: Se eu pudesse viver minha vida novamente, raramente teria tanta pressa. Qual o sentido? Você chega ao fim da vida e finalmente pára e reflete, e tudo fica tão claro. Você vê o absurdo de toda essa correria. Na verdade, parece tão engraçado e ridículo. Essa caça aos ratos é uma ilusão, tão desnecessária. Para que corremos de um lado para outro? Tudo que isso faz é nos impedir de experimentar a vida de alguma forma significativa, profunda. Agora posso ver que as pessoas estão tentando perseguir a felicidade. No entanto, é irônico, pois, se simplesmente desacelerássemos, a felicidade nos alcançaria."

[Uma hora para viver, uma hora para amar, Richard Carlson e Kristine Carlson.]

domingo, 3 de maio de 2009

Médico de flores




"Fiquei pensando que, mais ainda que ex-passageiro do Caravelle, gostaria de ter nos meus cartões de visita: V. de M., médico de águas. Assim seria apresentado às pessoas nas festas, em vez de como poeta ou diplomata. E ante a estranheza que lhes causaria o título, eu confirmaria gravemente:
- Sim, minha senhora, médico de águas, para servi-la...
Depois a imaginação se me partiu, e eu fiquei achando que médico de flores seria ainda mais belo. Que linda e honesta profissão a ter! E como eu seria o único do Rio, não chegaria para as encomendas, com uma clientela de fazer inveja a meus amigos os drs. Clementino Fraga Filho, Marcelo Garcia e Ivo Pitanguy, dentro de suas especialidades. Estaria assim muito bem no meu consultório e de repente minha mãe, aflitíssima, telefonaria: "Meu filho, vem depressa que minhas rosas estão morrendo..." E eu partiria com a minha maletinha para auscultar o coração das rosas, aplicar-lhes a coramina das flores, fazer-lhes transfusão de seiva, reavivar-lhes as cores, a fragrância, a beleza. E mal chegado a casa já haveria recados de milhões de amigas preocupadíssimas com suas azáleas, seus redodendros, seus antúrios. E eu voltaria feliz e diria com orgulho e alegria à Bem-Amada: "Acho que consegui salvar as rosas de minha mãe." E a Bem-Amada ficaria muito contente e me daria um beijo. E eu daria também consultas a flores pobres, e na rua todas as damas me sorririam com simpatia e respeito, cumprimentando- me com graciosos ademanes. E eu as cumprimentaria de volta, com a circunspecção que deve ter um médico de flores."

Vinícius de Moraes