segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Uma história confusa




"Te vi por trás das rosas e havia nos teus olhos uma ânsia muda. Algo assim como se quisesse falar comigo. Juro que na saída tentei me aproximar, mas tive medo. Sei que ainda vamos ser amigos. Não quero forçar nada. Hoje é domingo pouco antes do almoço. A casa está vazia. Eu gostaria de ter escrito logo depois daquela noite. É incrível, mas há duas décadas, nesse mesmo dia da semana, nessa mesma hora, eu estava nascendo.

(...)

Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada. Daqui a pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor, chegue mais perto."

Caio Fernando Abreu

domingo, 23 de agosto de 2009

À beira do mar aberto


E te imagino então parado sozinho sobre a faixa interminável de areia, o vento que bate em teu rosto, as mãos com os dedos roxos de frio enfiados até o fundo dos bolsos, o vento e novamente o vento que bate em teu rosto, esse mesmo que me olha agora, raramente. Teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume. Teu rosto mais nu que sempre, à beira-mar, com esse vento a bater e a revolver teus cabelos e pensamentos, e eu sem saber o que me revolve agora, quando teu olho outra vez escorrega para fora e longe do meu, entre tua testa larga, de onde às vezes costumas afastar os cabelos com ambas as mãos, numa mistura de preguiça e sensualidade expostas, e quando teu olho se afasta assim, não sei para onde, talvez para esse mesmo lugar onde te encontravas ontem, à beira do mar aberto, onde não penetro, como não te penetro agora. Mas é quando a pedra ou faca no fundo do meu olho afasta o teu, é que te olho detalhado. E nunca saberás quanto e como já conheço cada milímetro da tua pele, esses vincos cada vez mais fundos circundando as sobrancelhas que se erguem súbitas para depois diluírem-se em pêlos cada vez mais ralos, até a região onde os raspa quase sempre mal, e conheço também esses tocos de pelos duros e secretos, escondidos sob teu lábio inferior levemente partido ao meio, e tão dissimulado te espio que nunca me percebes assim, te devassando como se através de cada fiapo, de cada poro, pudesse chegar a esse mais de dentro que me escondes sutil, obstinado, através de histórias como essa do mar, das velhas tias, das iniciações, dos exílios, das prisões, das cicatrizes, e em tudo que me contas pensando suponho, que é teu jeito de dar-se a mim...

Caio Fernando Abreu

sábado, 22 de agosto de 2009

Anotações de um amor urbano


Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada. Não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você. Faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora.

(...)

Pensei em você. Eram exatamente três da tarde quando pensei em você. Sei por que sacudi a cabeça como se você fosse uma tontura dentro dela e olhei o digital no meio da avenida.

(...)

Não temos culpa. Tentei. Tentamos.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 9 de junho de 2009

Escrever



Escrevo porque nem sempre falo. Algumas vezes não há quem possa ouvir.

Escrevo pra não esquecer do que pensei, quando não pude compartilhar com alguém o sentimento e o pensamento que me agoniavam.
Escrevo pra falar aos que desconheço, na esperança de encontrar um similar entre os diferentes.
Escrevo pra não calar, porque se não posso falar, pelo menos escrevendo posso, ainda que só pra mim.
Escrevo pra me convencer, quando a dúvida me atormenta, e o medo me consome.
Escrevo pra esquecer, porque assim posso tirar da memória um pedaço da minha pequena história.
Escrevo pra gritar, porque as palavras gritam quando lidas com fervor.
Escrevo pra eternizar um pouco do que sou, quem sabe um dia, aos que virão, isso tenha algum significado..
Escrevo pra que saibam que penso, mesmo que não concordem ou aceitem o que se passa na minha cabeça.
Escrevo pros que não gostam de mim, pra que vejam que não me importo, e que continuo a viver mesmo assim.
Escrevo para parar o tempo, porque tudo anda tão corrido, que é bom respirar e descansar.
Escrevo como uma forma de esquecer do que passou, do que ainda não passou, do que vai passar..
Escrevo porque assim posso controlar o tempo, o tema, a cor, a história.
Escrevo pra não deixar que morra o meu desejo por coisas que ainda não vi.
Escrevo pra que permaneca viva a lembrança do que já vi.

Escrevo, porque as palavras são, pra mim, terapia, conforto, consolo, esquecimento, lembrança, contradição, perturbação, contestação, sossego..



Sou uma das convidadas pra postar aqui, sumida, muito ocupada, mas não tanto para ser negligente com o convite como fui (assumo, não orgulhosa disso), resolvi pelo menos trazer pra cá um dos textos que escrevi no meu blog.
Estava a me perguntar porque escrevia, e acho que, dentre os motivos, aquele que escreve deve se identificar com alguns..

domingo, 24 de maio de 2009

Certo dia resolvi não voltar pra casa depois da aula. O acúmulo de assunto e a falta de clima de estudos pelo qual minha casa passava, fez-me prolongar as horas na faculdade. Fui, então, almoçar no bloco de Engenharia, cujo restaurante oferece uma refeição satusfatoria numa simplicidade aconchegante. 
A única mesa vaga tinha lugar para 6 pessoas. Como eu, além de mim, só era acompanhada pelos livros, sentei já cogitando a possibilidade de dividi-la com pessoas desconhecidas, ao menos a principio. Mas não via isso como um problema, pelo contrário: sempre lamentei a minha timidez no que tange a abrir espaço para novas amizades.
Mergulhada nesse pensamento, fui bombardeada, não muito tempo depois, por exatamente 5 pessoas cujas mãos possuiam um prato pronto para ser devorado, e os olhos a busca pelo "lugar ao sol". 
Assim que me pronunciei com um, "podem sentar aqui, está vago", o mais cara-de-pau retruca: "mas já iamos sentar mesmo, nem se preocupe". 
Foi o suficiente pra os nossos santos se entenderem.

Admiro as pessoas que reconhecem seus lugares; mas admiro mais ainda a ousadia ponderada daqueles que querem conquistar os seus. O sucesso é um conjunto, atos isolados te levam apenas a metade do caminho.

Juliana Accioly

O castelo dos nossos medos

"... porque fomos educados para não chorar, para sermos adultos silenciosos. E ficamos na amargura, encolhidos no nosso medo, olhando as pinturas na parede que mostram as atitudes não realizadas. "

Thaís Copetti

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Kris, se eu pudesse viver minha vida novamente, gastaria muito menos energia querendo coisas que não tivesse e muito mais aproveitando as que já possuísse. A idéia de que a felicidade vem do fato de querermos o que temos, em vez de conseguirmos o que queremos, é algo tão óbvio e está bem debaixo do nosso nariz a vida toda, e você sempre pareceu saber disso melhor que eu.
Essa é outra coisa da qual estou absolutamente certo: Se eu pudesse viver minha vida novamente, raramente teria tanta pressa. Qual o sentido? Você chega ao fim da vida e finalmente pára e reflete, e tudo fica tão claro. Você vê o absurdo de toda essa correria. Na verdade, parece tão engraçado e ridículo. Essa caça aos ratos é uma ilusão, tão desnecessária. Para que corremos de um lado para outro? Tudo que isso faz é nos impedir de experimentar a vida de alguma forma significativa, profunda. Agora posso ver que as pessoas estão tentando perseguir a felicidade. No entanto, é irônico, pois, se simplesmente desacelerássemos, a felicidade nos alcançaria."

[Uma hora para viver, uma hora para amar, Richard Carlson e Kristine Carlson.]

domingo, 3 de maio de 2009

Médico de flores




"Fiquei pensando que, mais ainda que ex-passageiro do Caravelle, gostaria de ter nos meus cartões de visita: V. de M., médico de águas. Assim seria apresentado às pessoas nas festas, em vez de como poeta ou diplomata. E ante a estranheza que lhes causaria o título, eu confirmaria gravemente:
- Sim, minha senhora, médico de águas, para servi-la...
Depois a imaginação se me partiu, e eu fiquei achando que médico de flores seria ainda mais belo. Que linda e honesta profissão a ter! E como eu seria o único do Rio, não chegaria para as encomendas, com uma clientela de fazer inveja a meus amigos os drs. Clementino Fraga Filho, Marcelo Garcia e Ivo Pitanguy, dentro de suas especialidades. Estaria assim muito bem no meu consultório e de repente minha mãe, aflitíssima, telefonaria: "Meu filho, vem depressa que minhas rosas estão morrendo..." E eu partiria com a minha maletinha para auscultar o coração das rosas, aplicar-lhes a coramina das flores, fazer-lhes transfusão de seiva, reavivar-lhes as cores, a fragrância, a beleza. E mal chegado a casa já haveria recados de milhões de amigas preocupadíssimas com suas azáleas, seus redodendros, seus antúrios. E eu voltaria feliz e diria com orgulho e alegria à Bem-Amada: "Acho que consegui salvar as rosas de minha mãe." E a Bem-Amada ficaria muito contente e me daria um beijo. E eu daria também consultas a flores pobres, e na rua todas as damas me sorririam com simpatia e respeito, cumprimentando- me com graciosos ademanes. E eu as cumprimentaria de volta, com a circunspecção que deve ter um médico de flores."

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Acredito na bondade das pessoas como algo inerente a todo ser humano. Mesmo que o mundo se canse em mostrar o outro lado, eu prefiro seguir o caminho sem pegadas, onde ao fundo se escondem as brincadeiras e os sorrisos.

Ora, há quem seja totalmente bom? No mínimo, inteiramente humano.

Dizem que isso advém da minha inocência, a mesma que se perderia com o tempo, mas nunca acreditei nisso. A verdade é que cresci e passei a perceber nas entrelinhas dos gestos o que as pessoas queriam dizer, Só ainda assim estou como há anos atrás: com o mesmo espírito, com uma juventude renovada e com o mundo inteiro nas mãos. Não importa quantas vezes me digam o contrário, tenho as minhas próprias crenças e imagens: as mesmas que eternizar-se-ão caso eu não esteja enganada.


Annie Jolie

Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Libertação

Amanhã eu me libertarei!
Romperei com todas as cadeias
Que o mundo tem cingido em torno de mim.

Quebrarei convenções
Preconceitos e regras sociais,
Zombarei de cânones e leis,
E serei Eu pela primeira vez...

O mundo, escravo,
Chamar-me-á de louco...

E eu, liberto,
Rir-me-ei do mundo.

Théo Brandão

terça-feira, 28 de abril de 2009

Castro Alves - As duas flores





São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


Castro Alves

ELE.





Se tu queres que eu não chore mais
Diga ao tempo que não passe mais
Chora o tempo o mesmo pranto meu
Ele e eu, tanto
Que só para não te entristecer
Que fazer, canto
Canto para que te lembres
Quando eu me for

Deixa-me chorar assim
Porque eu te amo
Dói a vida
Tanto em mim
Porque eu te amo
Beija até o fim
As minhas lágrimas de dor
Porque eu te amo, além do amor!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Manual de Instrução

A graça de brincar com um quebra-cabeça é a incerteza do sucesso, o erro das jogadas e o anseio pela completude. Ora, se o recebestes logo preenchido, contemplar-lo-ia por apenas alguns instantes, para logo considerado-lo uma diversão antiga; mas sinta a falta de uma só peça, daquelas que se localizam ao centro e roubam um de seus detalhes essenciais. Verás, com isso, um misto de sentimentos inexplicáveis, que uma só parte ausente de quebra-cabeça proporciona. A quem te presenteou, recomendo o segredo: se quiseres que este nunca caia ao fundo da gaveta, guarde-a com afinco; do contrário, contente-se com minutos de contemplação e a eternidade do esquecimento.

Eis o que chamo de figuras de linguagem.


Annie Jolie.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mensagem à poesia




Não posso.
Não é possível.
Digam-lhe que é totalmente impossível.
Agora não pode ser, é impossível.
Não posso.

Digam-lhe que estou tristíssimo, mas que não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar, muitas de cidades a reerger, muita pobreza pelo mundo. Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo e as mulheres estão ficando loucas e há legiões delas carpindo a saudade de seus homens. Contem-lhe que há um vácuo nos olhos dos párias e sua magreza é extrema. Contem-lhe que a vergonha, a densonra, o suicídio rondam os lares e é preciso reconquistar a vida.
Façam-lhe ver que eu preciso estar alerta, voltado para todos os caminhos, pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Poderem-me com cuidado, não a magoem, que se não vou, não é porque não quero, ela sabe. É porque há um herói num cárcere, há um lavrador que foi agredido, há uma poça de sangue numa praça.
Contem-lhe bem em segredo que eu devo estar prestes, que meus ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem deixar de intimidar. Que eu levo nas costas a desgraça dos homens e não é o momento de parar, agora.
Digam-lhe que no entanto, sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento aos homens perplexos. Digam-lhe que me foi dada a terrível participação e que possivelmente deverei enganar, fingir, falar com palavra alheias, porque sei que é longínqua a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh!, procurem convencê-la desse invencível dever que é o me, mas digam-lhe que no fundo, tudo que estou dando é dela e que me dói ter de despojá-la assim, nesse poema. Que por outro lado, não devo usá-la em seu mistério, a hora é de esclarecimento; nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado há fome e mentira e um pranto de criança sozinha numa estrada, junto a um cadáver de mãe.
Digam-lhe que há um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem arrependido. Digam-lhe que há uma casa vazia com um relógio batendo horas. Digam-lhe que há um grande aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações, há fantasmas que me visitam de noite e que me cumprem receber.
Contem a ela da minha certeza do amanhã, que sinto um sorriso no rosto invisível da noite, vivo em tensão, ante a expectativa do milagre. Por isso peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora com a sua voz de sombra, que não me faça sentir covarde, ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável solidão.
Peçam-lhe, oh!, peçam-lhe que se cale por um momento, que não me chame, porque não posso ir. Não posso ir. Não posso.

Mas não a traí.
Em meu coração vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa envergonhá-la. A minha ausência é também um sortilégio do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la num mundo em paz. Minha paixão de homem resta comigo, minha solidão resta comigo, minha loucura resta comigo.
Talvez eu deva morrer sem vê-la mais, sem sentir mais o gosto de suas lágrimas, olhá-la correr livre e nua nas praias e nos céus e nas ruas da minha insônia.
Digam-lhe que é esse o meu martírio, que às vezes pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas forças da tragédia abastecem-se sobre mim e me impelem para a treva. Mas que eu devo resistir, que é preciso. Mas que a amo com toda a pureza de minha passada adolescência, com toda a violência das antigas horas de contemplação extática, num amor cheio de renúncia.
Oh!, peçam a ela que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo, a quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante, a quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa, por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho. A quem foi dado se perder de amor pelo direito de todos terem uma pequena casa, um jardim de frente e uma menininha de vermelho.
E se perdendo, ser-lhe doce, perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível.
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame, que me espere, porque sou seu, apenas seu.
Mas que agora é mais forte do que eu, não posso ir.
Não é possível.
Me é totalmente impossível.
Não pode ser não.
É impossível.
Não posso.

Vinícius de Moraes

... que horas são?

Acordo no meio do sonho sem saber se é dia ou se já anoiteceu, se o dia ainda é o mesmo, ou o seguinte; Acordo sem saber as horas, pra onde vou, com quem vou ou se vou; sem saber como acende a luz, em que lado da cama está o chão, e onde está o celular.

Acordo sem norte, sem luz e sem ar; por que o despertador pela vigésima vez não tocou? cadê o meu travesseiro? O que tem pro café da manhã? Compraram o café?ou já será o jantar? Por que minha mãe tirou a toalha do meu banheiro? Cadê o meu chinelo?

Mas afinal, o que eu faço agora? Que horas são?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Uma noite de cara-enfiada-no-travesseiro

Ei, espera! Eu ainda tenho muito o que te falar. Aparentemente eu sou assim, meio "caradepoucosamigos", mas na verdade o que eu sinto só eu sei. Não falo pra ninguém porque eu tenho medo, cara. Sei que você não entende, nem garanto que saia daqui entendendo melhor alguma coisa. Mas agora eu preciso falar, não se levanta daí, por favor. Pede outra cerveja, tenta engolir sem pressa de me ver pelas costas. Eu sei que ela pode esquentar, mas não vamos pensar apenas nas coisas práticas e banais. Te chamei aqui nem sei porquê, já está me dando aquela coisa na cabeça, aquela coisa que quando me dá eu não consigo ornanizar nada, então saem essas coisas desesperadas, provavelmente incompreensíveis que eu tô falando. Me desculpa, cara, mas não se levanta, não sai pela porta desse bar, eu não sei se aguento outra cena assim, fica sentado, não precisa nem olhar pra mim se não quiser, mas me escuta. Você pode ficar calado também, pode fingir que não tá escutando, mas deixa que eu continue.
Como foi que a gente deixou chegar nesse ponto? Eu tô aqui, bebendo feito uma louca, tentando me explicar por coisas que eu nem sei, por coisas que não aconteceram só por minha culpa. No dia em que você foi embora, eu fiquei te esperando voltar pela porta que você mesmo deixou aberta, porque eu nem mesmo me dei ao trabalho de tirar a cara enfiada no travesseiro e ir fechá-la, de tomar coragem pra andar pela casa até a porta e ver que estava tudo no lugar, menos você.
Não queria levantar daquela cama, pra ver se dormia, se esquecia que eu poderia ter feito isso na hora, ter te pedido pra ficar, trancado a porta e jogado a chave pela janela, ter te amarrado até que eu soubesse o que fazer, o que dizer. Queria esquecer que eu só enfiei a cara nesse maldito travesseiro pra não te ver indo embora. Gritei pro travesseiro pra não ouvir você batendo a porta, o carro saindo.
Não queria ter que abrir os olhos e ver que os teus sapatos estavam ainda debaixo da cama porque você saiu com tanto desespero que nem se calçou. Não queria ver a toalha molhada que você deixou na ponta da cama. Não queria não ver teu carro na garagem na hora do almoço. Não queria ver que já estava na metade da manhã e você não tinha me ligado do trabalho pra dizer que não me acordou porque eu estava paracendo um anjo e dizer que agora estava tudo bem, que tinha sido só mais uma das milhões de discussões idiotas e normais. Não queria entrar na cozinha e não ver a tua chícara suja de café em cima da pia e que a nossa plantinha na sala estava seca. Não queria ver a minha cara inchada pela alcançada quase falta de lágrimas, resultado de uma noite inteira de cara-enfiada-no-travesseiro.
Não queria, não queria nada disso. Mas levantei e até tentei não perceber isso tudo. Tentei até ver um filme. Mas depois de um "Eu não vou embora por que eu prefiro estar aqui, brigando com você do que estar fazendo amor com qualquer outra pessoa" do filhadaputa do garoto de programa que se apaixona pela cliente e de mais duas intermináveis horas naquele apartamento que tinha se tornado além de enorme, totalmente vazio, escuro e frio, não consegui mais. Peguei o carro e sai dirigindo. E bebendo. No começo não sabia onde ir e nem o que fazer. Mas eu precisava te ver e eu sabia que ia te encontrar aqui. Queria só te ver, só passar e ver como estava a sua cara depois de tudo, mas aí eu te vi aqui sentado sozinho, quase cheguei a ver lágrimas nos teus olhos e eu tive que vir aqui, foi quase involuntáriamente. E ainda é involuntáriamente que essas coisas estão saindo de mim..

Larissa Fontes

sexta-feira, 17 de abril de 2009

(...) Shakespeare




Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

(...) Mário Quintana

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.
Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela.
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável.
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples.
Um dia percebemos que o comum não nos atrai.
Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom.
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você.
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso.
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais.

Enfim...

Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito.

O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas em nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras.


QUEM NÃO COMPREENDE UM OLHAR TAMPOUCO COMPREENDERÁ UMA LONGA EXPLICAÇÃO!




(Mário Quintana)

PINGA!

Pra curar sua paixão, beba pinga com limão;
Pra curar sua amargura, beba pinga sem mistura;
Contra dor de cotovelo, beba cachaça com gelo;
Contra falta de carinho: cachaça, cerveja e vinho!
Se brigar com a namorada, beba pinga misturada;
Se brigar com a mulher, beba pinga na colher;
Quem dá amor e não recebe, mistura todas e bebe;
E se alguém te faz sofrer, beba para esquecer!!!
Pra curar seu sofrimento, beba pinga com fermento;
Pra esquecer um falso amor, beba pinga com licor;
Pra acalmar seu coração, beba até cair no chão;
E se a vida não tem graça, encha a cara de cachaça!
Pra você ganhar no bicho, beba uma no capricho;
Pra ganhar na loteria, beba pinga na bacia;
Pra viver sempre feliz, beba pinga com raiz;
E se você não tem sorte… beba pinga ate a morte!
Se essa vida de cão só te faz sofrer… o remédio é beber.